“Estou tão bipolar hoje!”. Ora ou outra ouvimos alguém dizer essa frase, muitas vezes entre risos, para justificar uma mudança repentina de humor. Mas o Transtorno de Humor Bipolar – também chamado Transtorno Afetivo Bipolar – não tem nada de engraçado. É coisa séria!
O Transtorno de Humor Bipolar é uma doença psiquiátrica, que afeta cerca de 1,6% da população, segundo o Ministério da Saúde (MS). Ele acomete igualmente homens e mulheres, geralmente com início entre os 20 e 40 anos, mas pode aparecer em qualquer idade.
Em seu site, o Dr. Drauzio Varella informa que esse distúrbio psiquiátrico é complexo. “Sua característica mais marcante é a alternância, às vezes súbita, de episódios de depressão com os de euforia e de períodos assintomáticos entre eles.”
Em outras palavras, quem tem essa doença apresenta períodos de aumento de energia, de atividade e de humor (que são chamados de mania ou hipomania, dependendo do nível de elevação); que são alternados por períodos com episódios de depressão, com queda de energia e de atividade, assim como rebaixamento do humor.
Essas flutuações de humor impactam negativamente o comportamento e as atitudes dos pacientes. Em geral, as pessoas com Transtorno de Humor Bipolar reagem aos fatos, que serviram de gatilho para a mudança de humor, de forma desproporcional e descabida.
Aos olhares dos outros, a pessoa que sofre desse distúrbio pode parecer ter um temperamento instável e até mesmo irresponsável, já que numa crise ela não mede as consequências de seus atos. Não raro, o doente acaba tendo problemas nos relacionamentos sociais e profissionais, se não for tratado adequadamente.
Conforme o MS, “os episódios maníacos geralmente começam abruptamente e duram entre 2 semanas e 4 a 5 meses. Os episódios depressivos tendem a durar mais tempo, em média 6 meses, raramente mais de um ano”.
Outra característica é que, após o primeiro episódio, há um risco de aproximadamente 90% de o paciente ter outro em algum momento de sua vida.
Relato de uma bipolar
O próprio paciente consegue perceber as crises da bipolaridade. “Nada tinha graça, nada me interessava. Não via motivo para sair, estudar, comer ou até tomar banho. Era um sofrimento enorme, uma dor no peito que não me deixava querer ou fazer nada”, contou, para o jornal O Dia, uma mulher que sofre com o transtorno.
Enquanto estava nesse período de depressão, chegava até a se machucar. “Me cortar gerava uma grande descarga de adrenalina que aliviava a dor; ver o sangue escorrendo me acalmava.”
Já em seus episódios de euforia, algumas vezes ela comprava coisas sem necessidade, mas nunca chegou a fazer dívidas exorbitantes, como pode ocorrer com pessoas com Transtorno Bipolar.
“Percebo que estou entrando em mania quando começo a ficar mais agitada, mais impulsiva, mais falante, sem conseguir acompanhar minha linha de raciocínio. Por estar sempre com a cabeça muito agitada, acabo dormindo muito pouco e muito mal”, disse ela.
Mais sobre os sintomas
No portal do Dr. Drauzio Varella, há uma lista de possíveis sintomas de quem sofre de Transtorno Bipolar, divididos pelos episódios:
Depressão: humor deprimido, tristeza profunda, apatia, desinteresse pelas atividades que antes davam prazer, isolamento social, alterações do sono e do apetite, redução significativa da libido, dificuldade de concentração, cansaço, sentimentos recorrentes de inutilidade, culpa excessiva, frustração e falta de sentido para a vida, esquecimentos, ideias suicidas.
Mania: estado de euforia exuberante, com valorização da autoestima e da autoconfiança, pouca necessidade de sono, agitação psicomotora, descontrole ao coordenar as ideias, desvio da atenção, compulsão para falar, aumento da libido, irritabilidade e impaciência crescentes, comportamento agressivo, mania de grandeza. Nessa fase, podem ocorrer atitudes impensadas como demissão do emprego, gastos descontrolados de dinheiro, envolvimentos afetivos apressados, atividade sexual aumentada. Em casos mais graves, ocorrem delírios e alucinações.
Hipomania: sintomas semelhantes aos da mania, porém bem mais leves. O paciente fica mais eufórico, mais falante, sociável e ativo do que o habitual.
As causas do Transtorno Bipolar
Ainda não se sabe exatamente as causas efetivas que levam uma pessoa a desenvolver o transtorno, mas já há algumas certezas. O MS, por exemplo, aponta três fatores:
1) Genético;
2) Alterações em certas áreas do cérebro e desequilíbrio de substâncias que regulam os níveis de neurotransmissores (dopamina, noradrenalina e serotonina); e
3) Alterações súbitas na estrutura ou na função de áreas cerebrais que participam da regulação do humor.
Por este último, portanto, depressão frequente, estresse prolongado, remédios que inibem o apetite, disfunções da tireoide, puerpério podem levar à manifestação da doença.
Diagnóstico e tratamentos
O diagnóstico do Transtorno de Humor Bipolar é clínico. O médico identifica ao ouvir a história do paciente e relato dos sintomas.
Entretanto, o Dr. Varella avisa, em seu site, que o diagnóstico pode demorar mais de dez anos para ser concluído, já que os sinais podem ser confundidos com os de outras doenças.
Os tratamentos, por sua vez, são eficazes no controle dos sintomas e incluem medicamentos e psicoterapia. Além disso, é recomendado mudanças no estilo de vida. Entre elas, optar por alimentação balanceada, criar hábitos saudáveis de sono e reduzir os níveis de estresse. É totalmente indicado o consumo de produtos a base de cafeína, álcool e drogas.
“Há tratamentos tão eficazes quanto os existentes em qualquer outra área da medicina”, destaca o Prof. Valentim Gentil Filho, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), durante entrevista que concedeu para o Dr. Varella.
“Sua aplicação possibilita, em poucas semanas, reverter um quadro grave de euforia”, cita o Dr. Gentil Filho, como um exemplo. E ele garante: “A doença não tem cura, mas as pessoas melhoram, recebem alta e reassumem suas atividades”.
Fontes:
https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/transtorno-bipolar-2/
http://www.blog.saude.gov.br/index.php/promocao-da-saude/53982-transtorno-afetivo-bipolar
https://odia.ig.com.br/diversao/televisao/2015-09-28/associacoes-criticam-bipolar-de-barbara-paz-em-a-regra-do-jogo-nao-e-real.html
https://drauziovarella.uol.com.br/entrevistas-2/transtorno-bipolar-entrevista/