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Suicídio infantil e Transtorno Afetivo Bipolar: Precisamos ouvir os sinais das nossas crianças.

Engana-se quem pensa que sofrimento é coisa só de adulto. As crianças e os adolescentes também; podem, sim, sentir depressão e ansiedade. E o mais triste: ajudam a engordar as taxas de suicídio no mundo todo. O tema é delicado, sem dúvidas, mas precisamos abrir os olhos para essa dura realidade e ficarmos atentos às nossas crianças.

Segundo o estudo “Mapa da Violência 2014”, coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, da Área de Estudos sobre Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) Brasil, as taxas de suicídio (por 100 mil habitantes) entre crianças e adolescentes aumentaram assustadoramente nas últimas décadas. De 1980 a 2012 (dado mais recente do “Mapa da Violência”), houve um salto de 61,8% de suicídios na faixa etária de 10 a 14 anos e de 25,6% na de 15 a 19 anos.

Impacto da pandemia na saúde mental

Como será, então, que estão essas estatísticas neste momento em que vivemos em meio a uma pandemia? Afinal, foi muito tempo de isolamento em casa, além de tantos que perderam entes queridos e/ou estão diante de graves problemas financeiros de seus pais ou responsáveis.

Ainda não há dados consolidados sobre suicídio nos últimos anos. Entretanto, há vários estudos relacionados ao impacto da pandemia na saúde mental, inclusive no público infantil. E sabemos que a fragilidade da saúde mental é o pano de fundo que leva alguém a atentar contra sua própria vida.

Um desses estudos recentes é da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que começou em junho de 2020 a monitorar a saúde mental de 7 mil crianças e adolescentes. Os dados foram inclusive apresentados em junho de 2021 à Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19 da Câmara dos Deputados: uma em cada quatro apresentou ansiedade e depressão, com necessidade de intervenção de especialistas.

Em sua apresentação à Comissão, o psiquiatra Guilherme Polanczyk, coordenador do estudo, destacou que há registros no Brasil de 10,3 milhões de casos de transtornos mentais entre as 69 milhões de pessoas com até 19 anos, segundo noticiou a Agência Câmara de Notícias.

Uma extensa análise canadense chegou a uma conclusão similar ao da FMUSP. Conduzido pela psicóloga Nicole Racine, da Universidade de Alberta, foram avaliados 29 estudos, com cerca de 80 mil participantes com até 18 anos de vários países, de acordo com artigo publicado na revista Pesquisa Fapesp. 

“A frequência de crianças e adolescentes com sintomas de depressão e ansiedade praticamente dobrou durante a pandemia de Covid-19”, diz o artigo. O texto informa que 25,2% das crianças e adolescentes apresentaram sinais clínicos de depressão e 20,5% estavam com fortes sintomas de ansiedade – antes da pandemia, as taxas estimadas eram, respectivamente, de 12,9% e 11,6%. 

Como ajudar nossas crianças?

Diante de números tão temerosos, é preciso, inicialmente, prestar atenção nas crianças e adolescentes. De acordo com o Instituto Geração Amanhã, é normal um adolescente, vez ou outra, pensar em suicídio, por conta da compreensão entre vida e morte. 

O que é esperado de pais e responsáveis, nesses casos, é que conversem sobre o assunto, sem tabus, julgamentos e repressões; e com um foco em orientação. Reforçar a autoestima dos filhos também é uma estratégia essencial – e isso em qualquer caso.

E quando deixa de ser normal? O sinal de alerta é quanto à intensidade profunda e duração por longo período. Como poucos são os que anunciam que estão pensando em tirar sua própria vida, os adultos devem ficar atentos a outros sinais. 

Como ensina o Geração Amanhã, deve-se atentar quando os pequenos e jovens apresentam depressão, queda do rendimento escolar, isolamento social, aumento da irritabilidade e crises explosivas, alterações no comportamento, preocupação com temas relacionados à morte, uso de álcool ou drogas. 

Se houve tentativa suicida anterior, o acompanhamento tem que ser redobrado. Quando o adulto identifica algum desses sinais deve procurar ajuda profissional, levando a criança ou o adolescente a um psiquiatra, psicólogo ou pediatra.

Fatores que podem levar ao suicídio

Algumas situações da vida fazem com que as pessoas sejam mais suscetíveis à ideação ou à tentativa suicida. Por isso, as taxas de suicídio são maiores entre os que vivem em situação de vulnerabilidade, ou seja, que sofrem com violência física ou moral, abuso sexual, autoridade excessiva ou total desleixo por parte dos responsáveis, além de histórico de suicídio anterior na família. Outro fator importante é se a criança ou adolescente sofre de bullying.

Também é fator de risco o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), distúrbio caracterizado por alterações entre episódios maníacos (euforia, dificuldade para dormir e perda de contato com a realidade) com episódios depressivos (falta de energia, desânimo, perda de interesse em atividades cotidianas).

A Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB) estima que entre 30% e 50% dos brasileiros bipolares (de todas as idades) tentam suicídio. Uma matéria publicada no portal do Dr. Drauzio Varella indica que a ABTB calcula que, dos que tentam se matar, 20% conseguem o objetivo. “De todas as doenças e de todos os transtornos, o bipolar é o que mais causa suicídios”, alertou a presidente da associação, Ângela Scippa.

Segundo o relatório “Suicide Worldwide 2019”, da Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos, em nível mundial. Pelo relatório, 700 mil pessoas (de todas as idades) se suicidaram em 2019, sendo 14,5 mil no Brasil, a maioria (78%) do sexo masculino. 

“Nossa atenção à prevenção do suicídio é ainda mais importante agora, depois de muitos meses convivendo com a pandemia de Covid-19, com muitos dos fatores de risco para suicídio – perda de emprego, estresse financeiro e isolamento social – ainda muito presentes”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “Não podemos – e não devemos – ignorar o suicídio”, destacou ele.

Fontes:

https://www.camara.leg.br/noticias/774133-uma-a-cada-4-criancas-e-adolescentes-teve-sinais-de-ansiedade-e-depressao-na-pandemia-aponta-estudo/

https://flacso.org.br/files/2020/03/Mapa2014_JovensBrasil.pdf

https://www.who.int/publications/i/item/9789240026643

https://www.paho.org/pt/noticias/17-6-2021-uma-em-cada-100-mortes-ocorre-por-suicidio-revelam-estatisticas-da-oms

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