Difícil não se emocionar com a história real de John Forbes Nash, retratada no filme ganhador de quatro Oscars Uma Mente Brilhante. Esse filme de 2001 foi inspirado no livro biográfico de mesmo nome, escrito pela jornalista Sylvia Nasar.
Nash era um gênio que apresentou teoremas que revolucionaram a matemática e a economia. Tanto que ele ganhou o Prêmio Nobel de Economia de 1994.
Bem antes dessa premiação, porém, ele foi diagnosticado com Esquizofrenia. Sofria de paranoias, acreditando que estava sendo perseguido, e delírios – ele não só ouvia vozes, mas também elas eram personificadas. E, em sua trajetória, não poupou esforços para controlar sua doença.
Essa relação entre a genialidade e a loucura é estudada há tempos. Não só Nash, mas dizem que talentosos como o físico e matemático Isaac Newton, o inventor Nikola Tesla, o pintor Vincent Van Gogh, a escritora Virginia Woolf, o escritor Ernest Hemingway, só para citar algumas mentes brilhantes, também sofriam de diferentes transtornos mentais.
Em geral, gênios como esses eram – e são – considerados excêntricos, arrogantes, muitas vezes estranhos e antissociais. E não é essa a percepção que as pessoas têm em relação a um esquizofrênico? E seria só isso que esses doentes teriam em comum com os gênios?
Apesar do tema ser muito estudado, não há um consenso entre a relação de genialidade e criatividade espetacular com os transtornos mentais.
Na verdade, uma característica comum aos dois grupos é a chamada desinibição cognitiva, ou seja, a capacidade de ver aquilo que para a maioria das pessoas passa despercebido, por serem coisas insignificantes.
Entretanto, cientistas do Instituto Karolinska, da Suécia, constataram, depois de escanear vários cérebros, uma incrível semelhança entre as mentes dos gênios criativos e as das pessoas que sofrem de Esquizofrenia. Eles perceberam que era difícil distinguir o limiar entre a parte criativa do cérebro e a da insanidade.
O Instituto Karolinska também identificou que a densidade de uma proteína (os receptores D2 do neurotransmissor dopamina) era menor tanto nas mentes muito criativas, quanto nos esquizofrênicos, diferentemente se comparada às pessoas menos criativas. Isso foi verificado no tálamo, que fica localizado no cérebro e funciona como um centro de organização dos estímulos recebidos. É ali que os receptores filtram e direcionam o pensamento.
Características da Esquizofrenia
A psicose é o sintoma mais característico de quem sofre de Esquizofrenia. Aqui entram as alucinações, em geral auditivas (o paciente ouve vozes, algumas vezes dando ordens descabidas, por exemplo, que ele precisa matar o pai).
Entram também os delírios, em que a pessoa acredita veemente em fatos falsos, como exemplo que está sendo perseguido, que é controlado por alienígenas, que foi implantado um chip no seu corpo etc.
Muitos esquizofrênicos também apresentam discurso e comportamento desorganizados e frequentemente inapropriados.
E não é só. Há vários outros sintomas que podem – ou não – ocorrer, tais como: perda de interesses e de motivação para fazer qualquer atividade, pobreza de fala, tendência ao isolamento, dificuldade em criar laços afetivos com os outros, déficits na memória e na atenção, sensação de alegria ou tristeza sem motivo, assim como pode demonstrar pouca variação em suas emoções.
Ao ler ou assistir Uma Mente Brilhante, podemos perceber quanto os sintomas psicóticos de Nash eram, de fato, reais para ele. Nash foi um sujeito muito inteligente, mas, por mais absurdo que pudessem ser suas alucinações e delírios, ele acreditava nelas.
“Como é que você pode, um matemático, um homem dedicado à razão e à prova lógica… como é que você pode acreditar que extraterrestres estão lhe enviando mensagens? Como é que você pode acreditar que está sendo recrutado por alienígenas do espaço exterior para salvar o mundo?”, perguntou certa vez o professor de Harvard e matemático George Mackey para Nash.
Nash levantou os olhos e fitou Mackey sem piscar, com um olhar tão frio e desprovido de emoção como o de um pássaro ou de uma cobra, conforme consta no prólogo do livro. “Porque”, disse Nash vagarosamente, “as ideias que eu tinha sobre seres sobrenaturais vinham a mim da mesma forma que minhas ideias matemáticas. De modo que eu as considerei seriamente.”
De fato, uma paranoica mente brilhante!
Fontes:
https://dokumen.pub/uma-mente-brilhante-8501062251-9788577990450.html
https://jornal.usp.br/atualidades/mentes-brilhantes-e-esquizofrenicas/