VOLTAR

A importância da saúde mental dos cuidadores

A expectativa de vida cresceu. E não é pouco: Desde 1940, a expectativa já aumentou 30,5 anos no Brasil, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). E a escalada promete continuar.

Em 2018, conforme a Projeção da População do IBGE, eram 28 milhões com mais de 60 anos, ou seja, 13% da população brasileira, com tendência a dobrar nas próximas décadas.

A projeção está em adequação ao previsto pela Organização Mundial da Saúde: Entre 2015 e 2050, a proporção da população mundial com mais de 60 anos saltará de 12% para 22% – de 900 milhões para 2 bilhões de pessoas no mundo.

O crescimento percentual é ainda maior na faixa etária de 80 anos ou mais: dos 125 milhões em 2015 para 434 milhões em 2050.

Com esse crescimento, entretanto, também aumentará o número de pessoas com doenças crônicas e deficiências, muitas vezes afetando a capacidade de serem autossuficientes. Por conta disso, precisam de cuidadores.

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), atualmente são 8 milhões de pessoas com mais de 60 anos que necessitam de cuidados prolongados nas Américas, número que saltará para 27 milhões a 30 milhões até 2050.

A Pesquisa Nacional de Saúde, realizada em 2013 pelo IBGE, aponta que 17,3% dos idosos no Brasil apresentavam limitações para realizar tarefas corriqueiras, como fazer compras, administrar as finanças, tomar remédios, utilizar meios de transporte, usar o telefone e realizar trabalhos domésticos. Essa proporção aumenta para 39,2% entre os de 75 anos ou mais.

Tarefa árdua do cuidador

Ser cuidador de idoso não é uma tarefa leve. Daniel Groisman, professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), disse em entrevista para o site da própria escola, que o papel das cuidadoras – Groisman prefere dizer no feminino, porque a grande maioria é formada por mulheres – é de ajudar os idosos nas atividades da vida diária, como na higiene, na alimentação, na mobilidade, assim como estimular nas atividades de lazer.

“As cuidadoras têm uma função importante na promoção da saúde, na proteção à dignidade e aos direitos, bem como na observação de mudanças na pessoa cuidada que possam demandar algum tipo de auxílio externo, ou mesmo o acionamento dos serviços de urgência e emergência”, detalha o professor.

Cuidador profissional x familiar

Quando o cuidador é um profissional treinado, ele tem conhecimento sobre o trato e manejo do idoso. Assim, consegue, na maioria das vezes, evitar problemas como dores musculares e também impactos à sua saúde mental.

Mesmo assim, deve de tempos em tempos buscar novos aprendizados, seja por leituras, seja por cursos de treinamento e capacitação para se atualizar.

Entretanto, muitas famílias não podem arcar financeiramente com os custos de um cuidador profissional, e o trabalho fica sob responsabilidade de algum familiar, em geral o cônjuge ou um filho.

“A cuidadora familiar assume um papel de cuidado por necessidade, por contingências da vida e também por imposições pelo seu papel de gênero na sociedade, que delega os cuidados para as mulheres”, avisa o professor-pesquisador Groisman.

E ele continua: “As cuidadoras familiares não têm um horário de trabalho definido e é frequente que não possuam tempo para o seu descanso. De modo geral, não têm oportunidades de acesso a uma qualificação para o desempenho das tarefas de cuidar. Além disso, são mais vulneráveis à sobrecarga”.

Sem saber movimentar o idoso de forma adequada, é comum o cuidador sentir dores ou problemas musculares. Aqui vale destacar, principalmente para cuidadores familiares, que o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) idealizou um curso a distância, que é gratuito, e ministrado pela Faculdade Unimed.

Trata-se do curso Fundamentos do Cuidado com o Idoso Frágil: Programa Cuidador de Idosos. São 60 horas de videoaulas gravadas no HC de Minas Gerais, que abordam temáticas médicas, psicológicas e sociais do trato ao idoso frágil.

Em foco, a saúde mental

Além do estresse físico, o cuidador tem o risco de as tarefas impactarem sua própria saúde mental.

A médica geriatra e professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Maria Aparecida Camargos, disse, ao site da própria instituição de ensino superior, que a dificuldade emocional em lidar com o quadro de saúde do idoso, por exemplo, gera uma série de efeitos.

Os cuidadores precisam ficar atentos a alguns sinais de alerta e não hesitar em buscar ajuda de um psicólogo ou psiquiatra. Entre os sintomas, estão cansaço constante, dificuldades em relaxar e sentir prazer, insônia, desejo de se isolar, dores, sentimentos como raiva e rejeição sem sentido, pensamento e comportamento suicida.

“O cuidador precisa ter uma vida ativa. É importante que procure centros de convivência pública, para que possa tirar um tempo para si mesmo. Não deve deixar sua vida pessoal de lado, pois isso pode gerar sério adoecimento mental”, disse a Dra. Maria Aparecida.

Maior atenção com a pandemia

Como vivemos um momento de maior tensão, por conta da pandemia de Covid-19, muitos cuidadores profissionais não puderam fazer isolamento. Eles tiveram que aprender a se proteger no trajeto até o seu trabalho e até no contato com o idoso, já que na maioria dos casos não é possível manter uma distância de um metro e meio, como preconizado pelos órgãos de saúde.

Não é diferente entre as cuidadoras familiares, que acabaram ainda mais sobrecarregadas do que antes da chegada do novo coronavírus. São filhos em casa o tempo todo tendo aulas online, ausência das faxineiras por conta do isolamento social etc.

Em ambos os casos, é preciso ainda mais cuidado com a saúde mental, porque naturalmente a situação de isolamento – recomendada mais fortemente para os idosos, por serem grupo de risco da Covid-19 – eleva as angústias, os medos e os transtornos de depressão, de ansiedade e até da Síndrome de Burnout.

Então, cuidado extra com a alimentação balanceada, a beber muita água, a praticar alguma atividade física e a garantir momentos de lazer durante a rotina. Afinal, sem cuidar de si mesmo, o cuidado com o próximo, no caso o idoso, pode trazer malefícios e se tornar menos eficaz.

Fontes:
www.medicina.ufmg.br/cuidadores-de-idosos-estao-sujeitos-ao-adoecimento-mental/
www.censo2020.ibge.gov.br/2012-agencia-de-noticias/noticias/24036-idosos-indicam-caminhos-para-uma-melhor-idade.html
www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5661:folha-informativa-envelhecimento-e-saude&Itemid=820
www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6036:numero-de-pessoas-idosas-com-necessidade-de-cuidados-prolongados-triplicara-ate-2050-alerta-opas&Itemid=820
www.holiste.com.br/saude-mental-cuidador-geriatria/
www.faculdadeunimed.edu.br/cursos/ead/cuidadores-de-idosos

COMPARTILHAR:

CONTEÚDOS RELACIONADOS

EDITORIA
O que é o Alzheimer?
EDITORIA
O que é Transtorno de Ansiedade Generalizada?
EDITORIA
O que é Depressão?